Dia desses, um amigo fez um desabafo, relatando ter sido
abordado, por duas viaturas do Batalhão de Choque e conduzido para a Delegacia
do 6º Distrito
Policial em Curitiba, por que tentava levar seu filho – dependente químico - para
ser internado. Contava com a ajuda de dois amigos, experientes em lidar com
essas situações. Seu filho e os dois amigos foram algemados e todos foram parar
na Delegacia.
De nada adiantou sua argumentação, e tampouco a exibição dos
documentos de interdição do filho e dos internamentos anteriores. Depois de
várias horas, foram liberados, sem antes ouvirem poucas e boas do comandante da
operação, conforme divulgou anteriormente. Cenas de autoritarismo e
intransigência foram a tônica da conversa.
Enfim, depois de todo o constrangimento a internação foi
feita, em uma clinica em São José dos Pinhais, obviamente gerando custos ao meu
amigo, além do desgaste emocional.
Ontem, no final da tarde recebi a notícia de que,
representantes do Ministério Público, guarda municipal de SJP, Polícia Militar,
Prefeitura Municipal, e outros estiveram na clínica, e os promotores
determinaram que todos aqueles que estavam internados contra sua
vontade???!!!??, Fossem retirados do local e devolvidos para seus familiares.
Naturalmente, os zelosos fiscais da lei, ignoraram as circunstâncias das
internações. Simplesmente, ouviram a parte interessada em voltar para o mundo
das drogas, em detrimento das famílias que sofrem com o malefício. Alguns,
sequer sem condições de se manifestar claramente, por conta do seu estado
físico. Outros, como o filho do meu amigo, sem condições de responder por seus
atos, por serem interditados judicialmente.
O que se seguiu, foi outra demonstração de como as coisas não
funcionam no Brasil. Foram encaminhados em um ônibus para a prefeitura
municipal de São José dos Pinhais, para serem devolvidos para as famílias.
Algumas compareceram, outras não, e muitas não quiseram por motivos óbvios
levar seus filhos e ou parentes embora, por não terem condições de tratá-los
adequadamente. Colocaram então, vinte e poucos internos dentro de um ônibus que
foi os levando de casa em casa. Em alguns lugares, não havia familiares para
receber e quando havia se recusaram. Quer dizer, jogaram o problema para o
motorista do ônibus, que ficou zanzando sem saber para onde ir, com um monte de
dependentes químicos, naturalmente agitados.
O filho do meu amigo foi recepcionado em casa, e chegou
alterado. Outra sessão para promover o encaminhamento para outro lugar.
Constrangimento, nervosismo, desgaste emocional, gastos, tudo de novo.
Pois bem: se a clinica em questão não tinha condições de
abrigar os dependentes, quem autorizou, ou porque estava funcionando? os zelosos fiscais da lei, juntamente com os
órgãos sociais de SJP, deveriam ter um plano b, c, d, z, enfim para uma
imediata relocação dos pacientes, ao invés de simplesmente tiraram do local e
devolverem para seus “donos”,como animais de estimação.
Imaginem a situação daqueles que não tem condição imediata de
prover outra internação, posto que os pacientes tiveram uma súbita interrupção
da ingesta de medicamentos, o que até para um leigo como eu, sabe causar
efeitos graves.
Imaginem também, que pessoas como meu amigo pagaram alguns
até às duras penas para terem seus parentes internados.
Alguns poderão argumentar que a clinica não estava habilitada
e que alguns foram internados compulsoriamente, sem as cautelas devidas.
Concordo que possa ter havido isso, mas não é isso que se discute, e sim a
maneira primária e infantil da operação, simplesmente arrancando de um local
onde – teoricamente- estavam sendo assistidos e que tinha autorização para
funcionar, para jogá-los de volta para suas casas, sem qualquer aviso prévio, e
sem que os responsáveis tivessem condições de reacomodá-los.
Não conheço a clínica, nem tampouco tenho procuração para
defendê-la, e nem motivos para atacá-la. Ataco, todavia, a maneira com que se
procurou resolver o problema, causando outros mais graves.
Se tão zelosos os membros do MP são, deveriam também ter sido,
em todas as ocasiões em que meu amigo, algumas das quais presenciei, foi
ameaçado de agressão, teve seus bens subtraídos, seus carros entregues para
traficantes, e por fim teve de se defender e quase agredir seu filho em surto.
Agora, ao invés do meu amigo, sou eu que pergunto: Afinal de contas, quando é
que vai se começar o combate efetivo ao tráfico de drogas e se instalar
políticas públicas de atendimento pré durante e pós-vício, e se dar um basta a
medidas midiáticas e pontuais como essa que ora de anuncia. Quando é que vai se
ter coragem de combater o problema, ao invés de ficarem deitando falação e com
medo de presos que estão comandando o esquema de dentro do falido sistema
prisional e que sabidamente são os testas de ferros de figurões de ilibada conduta
e indiscutível honestidade.
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