ATÉ QUE ENFIM.

Depois de um pequeno intervalo, falando sobre ameninades , vamos à luta. As pessoas que acompanham o blog viram que, de repente, resolvi dar um tempo na história ou estória que vinha contando sobre minha passagem pela Delegacia de Delitos de Trânsito. Não eu não tinha desistido do assunto. Era só um refresco. Então, vamo que vamo. Cheguei lá, depois de algumas desinteligências com alguns superiores, que tentavam teimosamente fazer com que as coisas andassem em círculos, sem chegar a lugar algum. Não raro é essa a orientação de alguns delegados que, como por encanto, surgem do nada, e viram delegado geral, com todas as benesses que a função proporciona. Esse assunto já foi comentado, e certamente aqueles a quem a carapuça coube vão começar a incomodar, mesmo sabendo que tudo que eu disse é absolutamente verdadeiro. Estava eu acordando pra mais um dia de luta, isso no dia 27 de outubro de 2001, quando o então meu amigo - se assim posso dizer - Ricardo Chab, fazia o maior escândalo: " FAMILIARES DE SENADOR ENVOLVIDO EM ACIDENTE DE TRÂNSITO ' " AGUARDE DETALHES'. Isso de dois em dois minutos, criando aquele espectativa mórbida. Parecia que ninguém se preocupava com o resultado do acontecido. Só queriam saber quem era o político, que segundo ele, havia interferido na apuração. Já nos primeiros momentos, a impressão de uma interferência espúria era clara. Fui eu,como um louco pra Delegacia, até porque a informação que me foi dada pelo plantonista foi de arrepiar: " Não foi nada, um acidentezinho normal, com dois mortos e dois feridos". E daí, foram até o local? Parece que tá dando o maior rolo, anunciei eu preocupado, em contraponto com a tranquilidade do atendente, funcionário exemplar, muito embora, naquele momento demonstrasse uma falta de iniciativa inexplicável. Lamentavelmente, não pode agora me contestar, pois já faleceu há algum tempo. Outras pessoas, todavia, viram e ouviram o diálogo. Sentindo que a coisa começava a tomar proporções que escapavam de um acontecimento ordinário, fui em disparada para a Delegacia, dando o último alerta: " Todas as pessoas que estejam de alguma forma relacionadas ao acontecimento, devem aguardar minha chegada". Já na Delegacia, meu instinto ou intuição, sei lá o que, anunciou que aí se iniciava um novo ciclo na minha vida pessoal e profissional. E não deu outra. Conversando com o pai de uma das vítimas, que estava acompanhado de um promotor de Justiça, conhecido dos tempos em que trabalhei em Ponta Grossa, ví adentrar a Delegacia, uma mulher que de longe reconheci. Muito embora estivesse descalça, com os cabelos em desalinho, e com a expressão desesperada, de quem havia momentos antes perdido uma filha, identifiquei como a Dona Teresinha - Teresinha Ribeiro Picolo. Teresinha era dona de um restaurante nas proximidades do então CEFET, onde nos finais de tarde se reunia um grupo de amigos, compostos por policiais e funcionários de uma empresa de Digitação, onde meu irmão era sócio. Até por querer muito menos um atendimento célere, e muito mais um conforto, veio diretamente em minha direção. O diálogo que se travou foi curto e marcante: " Minha filha morreu no acidente" Qual das duas? " A mais nova, disse ela". O abraço que se seguiu parece persistir na minha mente até hoje. Não sei se era um pedido de socorro, ou a busca de calor, diferente corpo frio de sua filha, que jazia no IML. Passado aquele momento que pareceu uma eternidade, voltamos à realidade. E a expedição daquela maldita guia de reconhecimento de cadáver, a que já me referi inúmeras vezes, pareceu mais díficil ainda. A emoção, foi substituida pela necessidade de formalidades processuais. Nessas alturas algumas pessoas envolvidas no epísódio já estavam na Delegacia. O motorista do Astra não. Estava hospitalizado. E o motorista da camionete também não. NINGUÉM OUSOU ME DIZER PORQUE. A experiência acumulada em anos de trabalho e os cochichos dos policiais, matou a charada. O Senador Roberto Requião, retirou do local alguém ou algumas pessoas, as quais posteriormente soube serem seus parentes. Essa afirmação, constante dos autos de Inquérito Policial " parentes seus", lamentavelmente não pode ser confirmada, muito embora também nunca tivesse sido desmentida. A identificação do motorista, depois de várias mudanças, se voltou para JOÃO JOSÉ DE ARRUDA NETO, sobrinho do Senador. Logo depois de o dia ter amanhecido, parece que a Delegacia virou o centro dos acontecimentos.Engraçado, lembro-me como se fosse hoje. Ninguém, absolutamente ninguém, naquele momento se preocupava com as vítimas. Queriam saber o que o REQUIÃO tinha feito. Inclusive meus superiores. O início da oitiva das testemunhas, foi marcada por um clima de desconfiança. Não meu em relação a elas, mas delas em relação a mim, Nenhuma delas acreditava que alguma coisa pudesse ser feita contra o todo poderoso, e que já havia dado demonstração de seu interesse pessoal na questão, atropelando a tudo e a todos para a consecução de seus objetivos. Mas, a coisa andou, e como andou. Amanhã eu conto mais um pouco.