”Muito mais grave que o não cumprimento das leis e
regulamentos, nem sempre suscetível de ser comprovado, são os maus exemplos
dados pelos homens públicos, que se valendo dessa condição, obstam a perfeita
aplicação das leis, que maioria das vezes foram por eles elaboradas, sem
imaginar que um dia pudessem ser por elas alcançados.”
Um dia, quando delegado de polícia,,presidindo um inquérito policial,
escrevi isso, ao constatar que um importante político havia estado num
local de crime e afastado os envolvidos,
seus parentes, para evitar a lavratura do flagrante, além obviamente de ter dificultado as diligências que se seguiram .
Naquela oportunidade, duas jovens morreram e dois outros ficaram feridos com gravidade. Obviamente que as diligências foram prejudicadas, no que respeita inclusive em relação a correta identificação do motorista, diante das
várias artimanhas orquestradas pelo político em questão. O fato foi por demais
comentado no Estado do Paraná, e eu claro, depois de algum tempo fui “gentilmente”
convidado a me aposentar. E por que falo
tudo isso agora? Naquele momento senti a fragilidade da nossa organização,
diante dos interesses de um político influente.
Mesmo diante de inúmeras provas, o processo penal correu de maneira
modorrenta, sem a devida aplicação daqueles que deveriam fiscalizar o
cumprimento da lei, e quem deveria
julgar. Nada de extraordinário aconteceu. Condenação por homicídio culposo, serviços comunitários, nem sempre
fiscalizados quanto ao seu cumprimento,, e
nada mais.. Essas circunstâncias foram relatadas para o Ministério
Público, Judiciário, e inclusive para o. Senado Federal..Ninguém, Senado
Federal, Poder Judiciário, se manifestou .O MP, sedizente fiscal da lei, não acorreu em
auxílio a investigação policial, e tampouco se esforçou para que o processo
andasse com a celeridade e a seriedade
que merecia. Já se demonstrava desde
então para que lado pretendia correr. Os
exemplos que se viram durante os anos seguintes, mostraram claramente a total
falta de vontade em atuar em casos de repercussão. Atuações efêmeras e
midiáticas não podem se confundir com que o ora pretendem, ou seja: serem os
responsáveis por investigações extraordinárias. Se, diante de simples arroubos
de valentia de um político mais conhecido pelas asneiras que fala e que faz, do
que por sua competência, imaginem quando a coisa for muito mais séria, como as
diuturnamente enfrentadas pelos policiais, nas mais diversas e adversas
situações. Falo isso, com a propriedade de quem já tomou chuva e frio, nas
campanas intermináveis; já comeu pão com lingüiça verde (por causa das moscas),
nos botecos dos recônditos desse Paraná, no aguardo do desfecho de uma prisão;
que já juntou mortos de valetas e barrancos, disputando o cadáver com moscas e
vermes; já sentiu o sibilo de tiros próximos a orelha; que já meteu o peito sem
colete (equipamento mais recente), que já sentiu o cheiro e a presença da
morte, quando desatava nós de laços de pescoços de recém enforcados, e apoiava
pais e mães desesperados com o ocorrido; que chorou junto com familiares
enquanto assinavam aqueles malditos autos de reconhecimento de cadáver; de ter
visto olhos raivosos e armas apontadas, e ter milésimos de segundo para definir
a situação: de se atracar com jovens da idade de meus filhos, enlouquecidos
pelas drogas, tendo que usar da força, quando a vontade era abraçá-los e
trazê-los de volta ao mundo.; de já chegou em casas com as roupas sujas de sangue , e assim
mesmo abraçar meus filhos, primeiro por ter voltado, e depois por eles estarem ali.
Tudo isso, enquanto os doutores que agora pretendem tomar conta das investigações
insistiam em devolver os autos para as delegacias, sem sequer olhar do que se
tratavam, nem imaginar que dentro daqueles cadernos de papel, existiam
histórias de vida, geralmente amargas histórias de vida. Concordo com a
existência de maus profissionais, tanto lá quanto cá. Mas, isso não pode
comprometer as instituições, onde habitam excelentes profissionais, e com os
quais, independente do lado, mantenho boas amizades. O que se discute, deve ser
levado muito longe do simples “eu mando mais do que você”. Enquanto nós
discutimos simplisticamente, tenham certeza, outros interessados, estão o
fazendo de maneira muito mais profunda. A mim me parece, que responsavelmente
deveríamos definir a quem interessa essa desinteligência, eis que enquanto vigiamos
o camundongo os elefantes passam ao largo. Pensem nisso.
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